Depressão Funcional – O peso de uma sombra VII

Muitas pessoas acham estranho o conceito de depressão funcional por raciocinarem toda a questão de maneira 8 ou 80: ou a pessoa está prostrada na cama, afogada em tristeza, apatia e/ou desilusão e querendo se matar, ou não pode estar sofrendo com a presença da sombra. Afinal, se ela continua sendo ativa, como pode estar com depressão? Não seria só frescura, como dizem por aí? O que você acha?

Pense num carro sem amassados, limpo e brilhante com problemas no motor. Ele tem problemas que precisam ser resolvidos, precisa de manutenção, mas ainda assim você pode dar a partida e vê-lo andar, mesmo que quase desmontando ou desligando. O exemplo é bobo, mas a lógica é essa mesma.

A depressão funcional engana

Aliás, esse é o problema principal com a depressão funcional: ela engana. O fato de alguém conseguir levantar pela manhã e ir trabalhar ou ir para a faculdade ou mesmo realizar tarefas domésticas não significa que ela não esteja sofrendo e quebrada por dentro.

Oferecer sorrisos e participar de conversas não querem dizer muito nesse estado. Quando a atividade termina e as responsabilidades e obrigações são cumpridas, a pessoa depressiva se afasta. Ela pode seguir a vida capengando nessa condição por meses e até por anos (como esse que vos escreve, por exemplo), movendo-se por hábito e realizando trabalhos simplesmente porque já “estava indo mesmo”.

Pelo que tenho visto e lido por aí (e tomando a mim mesmo como exemplo), a depressão funcional é um estado transitório, por mais longo que ele possa ser. A linha de chegada nessa caminhada é o abraço da sombra de forma completa: a depressão como estamos acostumados a pensar.

Como diferenciar a depressão funcional

Então como diferenciar a depressão da depressão funcional? Na depressão funcional, a pessoa geralmente se mantém apta a cumprir tarefas mecânicas: escovar os dentes, lavar a louça, fazer trabalhos que não exigem muito raciocínio ou imaginação (eu não vou dar nenhum exemplo, preguiça de arrumar confusão). As pessoas não conseguem perceber a aflição que o indivíduo está sentindo e tendem a achar que está tudo indo bem. E se você está pensando se isso reforça na cabeça do depressivo que ninguém o compreende… sim, reforça. Mas até certo ponto: alguém nessa situação tende a perder o interesse em quase tudo, inclusive no que os outros pensam dele.

A depressão funcional (ou de alto funcionamento, como já vi chamarem por aí) não permite que o afetado se divirta e pode mesmo haver um acúmulo de passatempos, hobbies e outras tentativas de distração. Assistir a muitos filmes, muitas séries, jogar videogames por horas sem fim são atividades que acabam se transformando em fugas da realidade antes de tentativas de prazer e relaxamento. Tudo é desgaste, angústia e excesso de pensamentos e preocupações. Outra coisa: conhece alguém que começou a abusar do álcool, a experimentar drogas etc? Isso é um aviso dos mais comuns de que algo não está nada bem.

Depressão funcional, depressão de alto funcionamento ou distimia (apesar de que esse último termo ser um pouco controverso) trata-se de um problema muito sério que pode se desenvolver em algo ainda pior. Perda de interesse generalizada, pensamentos em demasia e intrusivos e tristeza. Tem como ficar pior?

Tem sim. Como diz aquele velho ditado: nada está tão ruim que não possa piorar; você que não tem imaginação.

A sombra esta à espreita

Sempre se lembrem disso: a sombra aguarda a todos. Às vezes, basta um olhar por cima de seus ombros para enxergá-la. Basta uma chance, basta um momento. Basta alguns fatores se combinarem – e eles se combinam em uma frequência alarmante – e voilá, eis o fundo do poço. Escuro, lamacento e silencioso.

Então mantenham isso em mente: só porque alguém está lavando a louça e fazendo o dever de casa não quer dizer que ela não precisa de ajuda.


Não sou psiquiatra, psicólogo ou terapeuta. O texto acima não é uma recomendação, confirmação e/ou contestação de coisa alguma. Trata-se apenas de algumas exposições pessoais sobre o tema da depressão e outros correlatos.


Autor: Yori R. Santos-Ramos

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Palavras-chave: depressão, depressão funcional, sombra

Crédito da imagem de capa: rawpixel.com no Freepik

2 comentários em “Depressão Funcional – O peso de uma sombra VII”

  1. Sei bem ao que se refere, mais dia menos dia vc se dá conta que não está rendendo como rendia antes, ou pior, que não consegue fazer mais oq fazia antes, quando vc olha, ja se passaram 6 anos. E agora?
    E até parece que a vida vai te ajudar, né?
    Sabe aquela velha frase do “sorria pra vida e ela te sorrirá de volta” é uma mentira deslavada. Mas a gente continua tentando…

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