Bateria Social para Introvertidos

Para início de conversa

Eu nunca fui conhecido por ser a alma da festa, digamos assim. Eu não sou o convidado que vai salvar a noite. Primeiro por não ter interesse e, segundo, por não ter a energia necessária pra isso.

Acho a maioria das pessoas desinteressantes e cansativas e não tenho muita disposição pra percorrer os caminhos das relações interpessoais; quase sempre verdadeiros labirintos de bobagens sociais e papos-furados que pra mim não passam de perda de tempo na maioria das vezes. Também sou péssimo na arte de fingir interesse em algo. Mas nada disso me impede de, ocasionalmente, aceitar um convite e tomar um café na casa de um amigo ou aparecer em uma festa ou em uma ida ao cinema. Na verdade, eu não passo de um indiferente social.

Sei que isso pareceu um pouco arrogante, mas o que posso fazer? Mentir e dizer que adoro todo mundo? Que não vejo a hora de estar cercado de pessoas falando e rindo todas ao mesmo tempo? Sem chance. Será que eu não sou um grande chato? Provavelmente, mas gosto de pensar que sou seletivo.

O que é Bateria Social?

Preciso frisar uma coisa antes de tudo: eu aprecio, sinceramente, a companhia de algumas pessoas. Gosto de conversar com elas, gosto de rir com elas e mesmo de passar um tempo em silêncio com elas, assistindo a um filme ou fazendo uma refeição em silêncio. Só que mesmo com esse grupo seleto eu tenho limitações quanto ao tempo em que consigo permanecer operante nessas confraternizações. Que nunca é muito, diga-se de passagem.

Vou dar um exemplo:

Minha família gosta de fazer pequenas reuniões. Pra comer, conversar e se divertir. E antes que você pense que eu evito essas situações como evitaria a peste… você acertou!

É brincadeira, ok?

A verdade é que eu penso muito antes de aparecer em eventos desse tipo porque sei que, em pouco tempo, vou me tornar um incômodo. Quando a minha bateria social termina e eu paro de rir e de falar com as pessoas e vou sentar em uma cadeira, sozinho, do outro lado da sala, sei que começo a incomodar os outros, por mais que não digam nada. Muitas vezes, acabo indo embora antes de todo mundo.

Usei o exemplo da família, mas poderia ser com amigos, colegas ou qualquer tipo de reunião de pessoas.

Nós, os pouco dotados de “energia socializante”, geralmente somos mais introvertidos do que a média das pessoas, mas isso não é uma regra; introvertidos podem sim ser sociáveis. Alguns interagem pouco por serem encabulados, outros por mero tédio interpessoal. Mas eu não estou falando sobre não querer ou sobre não fazer algo por timidez; estou falando sobre NÃO CONSEGUIR se relacionar com os outros, mesmo querendo ou precisando. Seja por um motivo ou por outro, não temos muita disposição pra estarmos cercados de pessoas durante muito tempo. Nós precisamos selecionar nossos relacionamentos e eventos, passar um pente fino (e quanto mais fino, melhor) por uma simples questão de sobrevivência.

Menos tempo perdido, menos interações, menos gasto de energia, menos cansaço e menos estresse.

Aumento da bateria social

Será que existe alguma maneira de aumentar a quantidade de energia da bateria social? Tem sim. Confesso que não tiro tanto proveito assim dessas estratégias, mas acho que vale a pena tentar. Lembrando que essas sugestões são voltadas para pessoas introvertidas e, como eu não gosto muito de escrever sobre coisas que eu mesmo não tentei, citarei apenas duas coisas que costumo fazer.

1) Planejar a ocasião:

Onde será? O que será? Um café? Uma festa? Quantas pessoas estarão presentes? Quantas eu conheço? Poderei dar uma pausa nas conversas de vez em quando? Pensando nessas perguntas poderá estimar quanto tempo e quanta energia precisará pra cada situação e usá-los melhor. Também há quem passe o dia todo sem falar com ninguém, economizando energia social pra gastar em um compromisso à noite.

2) Planejar o depois do evento:

Planejar como você vai se recuperar depois que tudo terminou (ou depois que você se cansou e foi embora). Ver ressaca social abaixo.

Ressaca Social

Você já se sentiu fisicamente cansado e mentalmente esgotado após longos períodos de interações? Com aquela dor de cabeça e uma sensação de ter sido drenado até a alma? Você pode estar passando por uma ressaca social. Falou demais, ouviu demais, riu demais? Agora pague o preço (dramático, não?). O único modo que eu conheço de se recuperar disso é tirar um tempo pra si mesmo. Ficar sozinho com os próprios pensamentos ouvindo uma música relaxante é uma ótima pedida. Assistir a um filme também pode ser uma boa, mas, na verdade, você pode fazer qualquer coisa para descansar e deixá-lo (a) confortável. Inclusive ir dormir.

Lembre-se também de reservar um tempo só pra você durante os dias. Precisamos disso pra não ficarmos “socialmente bêbados” durante todo o dia e de ressaca pela noite. Uma pausa no trabalho, na faculdade ou mesmo em casa. Faça isso. Às vezes a gente só precisa dar uma volta por aí. Mas sozinhos. Reconecte-se consigo mesmo.

Associal

Recentemente me deparei com esse termo e achei interessante comentar sobre ele aqui, pois retrata bem como me sinto em relação a interagir com outras pessoas. Além disso eu nunca me considerei um antissocial, palavra que adoram usar pra me descrever. Quando me definem como antissocial parece que estão me chamando de psicopata ou algo do tipo.

Aliás, pesquisem por transtorno de personalidade antissocial e vejam se não tenho razão.

Importante também dizer que associal não é alguém que sofre de fobia social. Entenda o associal como um indivíduo socialmente indiferente. Alguém que não busca a interação com entusiasmo, mas se tiver que fazer, fará, mesmo que por pouco tempo.

Como eu disse antes: tenho amigos e gosto da minha família; mas como a minha bateria social é curta, muitas vezes me pego recusando convites ou, quando os aceito e compareço, acabo indo embora mais cedo. Às vezes tento me forçar a ser mais presente e a participar mais (interagir com os outros faz bem pra mente, eu não ignoro isso), mas nem sempre sou capaz. E o pior: quando consigo ficar meia hora a mais naquela festinha ou reunião, eu termino muito mais cansado e com um mau humor que faria o Grinch, na véspera de Natal, parecer um cara simpático.


Então é isso. Acho que demos uma boa pincelada nesse tópico e espero que tudo tenha ficado o mais claro e objetivo possível. Talvez eu volte a esse tema em um outro dia. Caso queiram conversar mais sobre o assunto, me convidem pra um café. Quem sabe eu não apareço dessa vez?


Não sou psiquiatra, psicólogo ou terapeuta. O texto acima não é uma recomendação, confirmação e/ou contestação de coisa alguma. Trata-se apenas de algumas exposições pessoais sobre o tema discutido.


Crédito de imagens:

Capa: Imagem de Grae Dickason

10 comentários em “Bateria Social para Introvertidos”

  1. Creio que essa deveria ser a reação das pessoas de maneira geral.Parece sim ser arrogância mas vejo que isso é natural.
    Encontro tem que valer a pena!!!!
    Já vivi como se fosse no automático, me convidavam? Eu ia sem pestanejar,algumas vezes,valia muito.
    Noutras perdia energia,ficava irritada com conversas superficiais,fúteis, chatas!!!
    Hoje posso dizer que estou mais seletiva.
    Penso assim: pra deixar minha casa,tem que ser e ter bom papo,boas risadas,boa comida,bons sonhos,…
    Sendo assim…
    Tô dentro!!!!

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    • Ah sim, veja um exemplo pessoal: eu já cansei de ir a lugares e (tentar) fingir que gostava de fumaça de cigarro, música ruim e muito papo mosca de gente que não me acrescentava coisa alguma. Foi uma fase onde eu achava que precisava aprender a me enturmar e a me adaptar a qualquer pessoa. Que besteira. Quanto tempo e energia (e até dinheiro) perdidos.

      Hoje reaprendi a ficar à vontade sendo eu mesmo.

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  2. Preciso rever minha bateria social que é bem alta, mas percebo que cada ano está diminuindo, o tempo passa e ando avaliando minhas posturas. Excelente texto para reflexão. Obrigada

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