Tsuru, um pássaro de papel! Era assim que eu imaginava, e nem fazia ideia de quantas histórias cercam a sua imagem. Agora sei que o Tsuru não é apenas um pássaro conhecido pelo Origami, a arte de dobrar papel, e sim, o representante de toda uma cultura.
Comecei a prestar mais atenção num dia em que, entrando num consultório, bem na sala de espera, lá no cantinho, tinha um móbile de tsurus pretos e brancos, lindos. Eram perfeitos, bem acabados, as dobraduras bem marcadas, mas com suavidade. O móbile era grande, muitos tsurus, dando leveza ao ambiente: uma imagem inesquecível.
Resolvi, então, conhecer melhor quem era essa figura. O belo Tsuru, na verdade, representa um pássaro chamado Grou da Manchúria.
Conhecendo o Grou mais um pouquinho
O grou existe em quinze espécies diferentes, mas o Grou japonês é considerado o mais majestoso e simboliza o origami em forma de grou. Com cerca de um metro e meio de altura, possui penas brancas e cauda preta, pernas longas e pescoço comprido. Suas penas são caídas e em sua cabeça tem uma bela coroa vermelha.
O grou é um símbolo da longevidade, fidelidade, sabedoria, fortuna e imortalidade. No Japão é chamado pássaro da felicidade; na China, pássaro celestial.
É um pássaro migratório que consegue voar por muito dias, chegando a atravessar três continentes no mesmo ano. Por voar tanto e ficar tão perto do céu, também é chamado de mensageiro celeste.
A lenda do Tsuru
No Japão, a história mais conhecida conta que um velho camponês salvou um grou bastante machucado que havia caído numa armadilha. O grou, ou Tsuru, se transformou numa bela moça e passou a morar com ele e sua esposa. Quando chegava a noite, ela ia para um galpão usado para tecelagem, onde se transformava novamente em ave e arrancava suas próprias penas.
Ela fazia, com aquelas penas, um lindo tecido que dava de presente para o casal que a salvara. O tecido era tão lindo e macio que o camponês pediu que a moça fizesse mais tecidos para ele poder vender. A moça, agradecida por ele ter lhe salvado, concordava e fabricava mais tecidos.

A moça apenas avisara que nem ele e nem sua esposa deveriam olhar dentro do galpão enquanto ela estivesse tecendo. Eles concordaram, mas a esposa do camponês não atendeu o pedido e numa noite, escondida, foi até o galpão e descobriu que a moça era uma ave.
Depois de ter sido visto, ele não pôde mais viver com o casal de idosos. Desta forma, o Tsuru voou para o céu, deixando um rastro de poeira cintilante.
A lenda dos mil tsurus
A lenda japonesa diz que se dobrarmos mil origamis de Tsurus, os deuses irão realizar nosso mais profundo desejo. Devem ser mil Tsurus, pois um Tsuru vive mil anos. Você pode fazer seus pedidos sobre qualquer coisa, pela saúde, uma conquista, um amor.
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Tsuru e a cultura japonesa
Na cultura japonesa, o Tsuru simboliza fidelidade, paz e cura. Existe a crença que se um paciente dobrar mil Tsurus de papel (origami), será ajudado na sua recuperação.
O Tsuru, no Japão é considerado o pássaro da longevidade, sendo um dos amuletos mais populares por lá. É costume se presentear com um Tsuru pessoas que tenham sido vítimas de desastres ou que estejam doentes.
Segundo antigas tradições do Japão, as asas poderosas de um Tsuru podem levar almas para o paraíso e também encaminhar pessoas para iluminação espiritual.
A história de Sadako Sasaki
Foi a história de Sadako Sasaki que tornou a lenda dos mil Tsurus mais conhecida. Essa menina sofria de leucemia, diagnosticada aos 11 anos, causada pela exposição à radiação da bomba atômica que destruiu a cidade de Hiroshima, durante a Segunda Guerra Mundial.
Sadako precisou ficar internada no Hospital da Cruz Vermelha durante muito tempo. Lá ela conheceu a lenda e resolveu dobrar os mil Tsurus (sembazurus) pedindo sua cura e também para todas as vítimas da guerra. Entre seus pedidos também estava a Paz Mundial.
Conta-se que ela não conseguiu dobrar os mil Tsurus, que teria falecido antes, em 25 de outubro de 1955. Outras informações dizem que seu irmão mais velho, Masahiro Sasaki, afirmava que Sadako havia conseguido mais do que mil Tsurus, que ela teria dobrado 1.400 origamis.
Outra versão diz que a menina teria dobrado 964 Tsurus antes de falecer e seus colegas continuaram a dobrar os que faltavam.
Após a morte de Sadako, amigos seus resolveram se juntar e, com a ajuda de um financiamento, construíram um memorial a ela e para todas as crianças vítimas dos efeitos da bomba atômica. No Parque Memorial da Paz, em Hiroshima, e no Parque da Paz, de Seattle, podemos ver uma estátua de Sadako Sasaki.

A história da menina Sadako tornou o Tsuru um símbolo de esperança.
11 de novembro – Dia mundial do origami
Em 1980, a Nippon Origami Association (NOA) criou o Dia do Origami, escolhendo o dia 11 de novembro para essa comemoração por considerarem essa data o dia da esperança e da paz mundial. E o tsurru é o origami que melhor representa a paz.
Hoje, o Tsuru permanece um dos origamis mais populares no Japão. Presentear alguém doente com um Tsuru é como se estivesse entregando uma prece pedindo cura.

Os japoneses costumam oferecer o origami de Tsuru em santuários e templos. A atitude de realizar muitas dobraduras e distribuí-las merece recompensa divina, assim prega a crença.
São também oferecidos em casamentos, desejando votos de felicidade e vida longa aos noivos. A ave é monogâmica, tendo, assim, um parceiro para a vida inteira, motivo pelo qual também simboliza a fidelidade.
Um momento histórico e triste foi o chamado evento de 11 de setembro. Nessa ocasião, voluntários dobraram e enviaram milhares de Tsurus para os bombeiros, delegacias, museus, igrejas e hospitais, de toda cidade de Nova York, como uma forma de apoio.
Como fazer um Tsuru
Estamos falando de fazer um origami na forma de um Tsuru. A primeira coisa a fazer é escolher o papel. Quando o origami é simples e não tem muitas dobras, podemos fazê-lo num papel mais rígido. No caso dos origamis mais complicados, com muitas dobras, melhor um papel mais fino.
Você que ainda não tem a manha pode utilizar o papel sulfite. É um papel que não é caro, embora não se encontre em muitas cores.
Também podemos usar papel de presente e aí você terá um origami diferente, já que esse papel é branco de um lado e do outro, colorido.
O papel espelho, colorido de um lado só, pode ser com brilho e sem brilho. Esse papel apresenta uma dificuldade, suas dobras ficam marcadas.
O papel Color Plus não deixa marca quando o dobramos e possui diferentes densidades.
Hoje em dia você encontra em algumas papelarias o papel cortado no formato quadrado e em diversas cores. Na internet também está disponível.
Abaixo o caminho para aprender como fazer um tsuru:
Hoje, tenho em minha casa alguns móbiles de Tsuru. Meu preferido é o branco, mas gosto de todos. Muitas vezes já presenteei amigos com Tsurus. Acho bonito e significativo. Espero que você tenha gostado de saber um pouco mais sobre eles. Até a próxima!

Autora: Cristina Ramos
Referências:
Crédito de imagens:
Capa: Imagem de Anke Sundermeier por Pixabay
Bacana! Vou tentar fazer.
Acho que é bem relaxante e não são difíceis de fazer !!