O Morro dos Ventos Uivantes – resenha literária

Os livros clássicos: histórias inesquecíveis que permanecem no tempo, com suas tramas e personagens únicos. Podemos dizer, sem sombra de dúvida, que O Morro dos Ventos Uivantes faz parte dessa categoria!

Lembro-me bem dessa capa destacada, uma das várias que a obra recebeu. Essa, em especial, ficou guardada em minha memória, pois me parecia assustadora. Na minha visão, tanto o título como a capa me sugestionavam coisas arrepiantes.

A obra

Único romance da britânica Emily Brontë, foi lançado em 1847 com o nome de Wuthering Heights. Aqui no Brasil, foi traduzido para o português como O Morro dos Ventos Uivantes. Hoje é considerado uma obra clássica da literatura inglesa, mas não deixou de receber fortes críticas no século XIX, por trazer uma história por vezes mórbida. Com o passar do tempo, foi reconhecida como uma obra-prima singular, incluída no cânone dos clássicos da literatura inglesa. Várias versões foram realizadas no cinema.

O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë.
A obra está disponível na Amazon.

A história de O Morro dos Ventos Uivantes

Heathcliff, Catherine e Edgar, movimentam uma história de amor proibida, num clima intenso em que circulam o suspense, o drama, o clima de desejo, a violência e o ódio. O amor descrito no livro não é aquele amor doce, comum nos romances, mas traz todos os sentimentos contraditórios do sentir humano. Pode-se dizer um amor amaldiçoado.

A trama acontece em 1801 e se desenrola num ambiente rural, no interior da Inglaterra. A violência e a paixão do livro levaram o público vitoriano e alguns dos primeiros críticos que o leram a acreditar que o autor do O Morro dos Ventos Uivantes seria um homem.

Tudo começa quando Heathcliff, criança ainda, precisamente um “órfão, morador de rua” é adotado pelo pai dos irmãos Catherine e Hindley. Catherine o aceita como amigo e Hindley o considera como um rival. A partir daí, o leitor verá um emaranhado de emoções.

São tantos nomes de família que fará você ter vontade de montar um gráfico ou uma árvore genealógica. Parece exagero, mas irá ajudar! A obra é riquíssima em detalhes.

Prepare-se para um livro poderoso, daqueles que conquistam o leitor. Boa leitura!!

Senhora lendo um livro.

EMILE JANE BRONTË e sua trajetória

Nasceu em 30 de julho de 1818, em Thomton, condado de York, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, hoje Reino Unido. Faleceu, aos 30 anos, em 19 de dezembro de 1948, na mesma localidade do nascimento. Emile era a quinta dos seis filhos, seu pai Patrick Brontë, era vigário da Igreja da Inglaterra e Maria Branwell. Suas irmãs Charlotte e Anne, eram escritoras. Haviam, ainda, irmãos mais velhos: Maria, Elizabeth e Patrick Branwell.

Infância e juventude

Quando Emily tinha três anos, sua mãe faleceu e uma tia, considerada muito rígida, foi morar com eles, a Tia Branwell. Emily, Maria, Elizabeth e Charlotte foram mandadas para um colégio interno, em Cowan Bridge, onde sofriam muitos castigos, se alimentavam mal e penavam com o frio que as impedia até de dormir. Nessa época, Emily tinha seis anos. Por conta de uma febre tifóide epidêmica que atingiu o colégio, Maria e Elizabeth ficaram doentes e, mesmo retornando para casa, Maria veio a falecer. Com a morte da menina, o pai resolveu levar todas as irmãs de volta para casa, mas logo após o retorno, Elizabeth também veio a óbito.

Detalhe interessante e tocante, é que na volta pra casa havia uma nova empregada, Thabitha, chamada por Taby, criatura carinhosa que gostava de contar histórias. Ela foi homenageada no livro O Morro dos Ventos Uivantes, como a personagem fiel de Nelly Dean.

No correr da história, Charlotte entrou para o colégio em Roe Head, Branwell começou a beber e Emily a se refugiar num mundo só dela. Chegou a ser levada por Charlotte para Roe Head, mas por causa da sua timidez não se adaptou à nova realidade e voltou pra casa. Branwell, por sua vez, bebia sem controle e contava mentiras, abandonou seus estudos preparatórios para Academia de Belas Artes, não considerando o esforço de seu pai para formá-lo.

Vida adulta

Na sua vida adulta, Emily tornou-se professora, em Halifax. Por problemas de saúde, regressou para casa. Sua vida então foi preenchida com trabalhos domésticos e aulas de catequeses que passou a ministrar. Além disso, tocava piano e aprendeu sozinha o alemão. 

Posteriormente, Emily e sua irmã Charlotte, resolveram mudar para Bélgica. Charlotte resolvera trabalhar lá e levou Emily consigo. Em Bruxelas, conhecem o Professor Constantin Héger, por quem Charlotte se apaixona, apesar de ser casado. Héger ficou impressionado com a personalidade de Emily e escreveu:

“Ela deveria ter sido um homem: um grande navegador. A sua racionalidade poderosa teria retirado novas perspectivas através do seu conhecimento das velhas e a sua vontade forte e imperiosa nunca teria esmorecido perante oposição ou dificuldades, apenas perante a morte.”

Charlotte e Emily se tornaram fluentes em Francês e Alemão, recebendo uma proposta para ficarem em Bruxelas por mais tempo e a proposta de serem professoras. Charlotte daria aulas de inglês e Emily, aulas de música. Contudo, a doença e o falecimento da tia, impediram a realização desses projetos. 

Lançamento dos livros

Após tentar fundar uma escola – o que não deu certo por falta de alunos -, Anne e Branwell passam a trabalhar como preceptores. Emily e Charlotte ficam em Haworth. Charlotte, descobre os poemas de Emily e decide publicar, mas junto com os seus e os de Anne. Elas publicam com as despesas custeadas com o dinheiro da herança da tia. Somente dois livros foram vendidos, embora a crítica tenha elogiado a obra. Esse fato não desanimou as irmãs: elas resolveram que cada uma escreveria seu próprio livro.

Charlotte foi a primeira a publicar, em outubro de 1847, o livro Jane Eyre, usando o pseudônimo de Currer Bell, atingindo grande sucesso. Emily lançou Wuthering Heights (O Morro dos Ventos Uivantes) em dezembro de 1847, sob o pseudônimo Ellis Bell. Nesta ocasião, Jane Eyre já estava na 2.ª edição. Wuthering Heights (O Morro dos Ventos Uivantes) foi publicado como dois volumes de um conjunto de três que incluía Agnes Grey, de Anne Brontë (Acton Bell). O romance, visto que foi considerado tenso, não foi valorizado pelos críticos da época.

Saúde debilitada

A autora de O Morro dos Ventos Uivantes, Emily Jane Brontë, acreditava que a sua saúde era deficiente por tudo que havia vivido, junto com seus irmãos. Viveu durante muito tempo em local com clima desfavorável e, para piorar, usando em sua casa água contaminada, que vinha do cemitério da igreja. Tudo isso a fazia crer ter uma saúde fraca. No ano de 1848, em setembro, seu irmão Branwell, veio a falecer e, durante os funerais, contraiu uma constipação séria que a debilitou gravemente. Logo após esse acontecimento, ainda se recuperando, contraiu tuberculose. Mesmo assim, ela não queria médicos e nem remédios, chamava inclusive os remédios de veneno.

A morte

Emily, embora tivesse declarado não querer ver médicos, ao piorar, a ponto de só conseguir falar sussurrando, pede a família que chamem um médico. Queria que um a visse, mas não havia mais o que fazer: nesse mesmo dia, ela faleceu. Como a morte do seu irmão tinha acontecido três meses antes, uma criada chegou a comentar que “a menina Emily morreu de coração partido pela morte do irmão”. O caixão em que Emily foi enterrada media quarenta centímetros de largura, tal a magreza em que ela se encontrava. Seu sepultamento foi realizado na igreja de St. Michael and All Angels Cemetery, Haworth, Oeste. No próximo ano morreria sua irmã, Anne Brontë.

Paisagem de morros ao entardecer, fazem lembrar O Morro dos Ventos Uivantes

Poema de Emily Brontë

JÁ NÃO É MAIS TEMPO

Já não é mais tempo para te chamar ainda,
Não quero mais embalar este sonho.
Assim o raio de alegria não durou senão um momento
E a dor infalível logo voltou impetuosa.

E depois a bruma já se levantou a meio;
A rocha estéril exibe o seu flanco nu,
Onde o sol e os primeiros olhares da aurora
Acabaram por adorar suas imagens nascentes.

Mas na memória fiel da minha alma,
Tua sombra amada será eternamente emocionante,
E Deus será o único a reconhecer sempre
O asilo abençoado que abrigou minha infância.

Autora: Cristina Ramos


Conheça, também, as obras de uma grande autora brasileira, Lygia Fagundes Teles. Aqui nesse blog temos um post sobre uma de suas coletâneas: Venha ver o pôr do sol e outros contos. Clique aqui!


Referência

Javier Marías, Margaret Jull Costa, Written Lives (2006), p. 171 / Catherine Reef, The Brontë Sisters: The Brief Lives of Charlotte, Emily, and Anne (2012) /[12] he Oxford History of the Novel in English (2011), Volume 3, p. 208 / https://pt.wikipedia.org/wiki/Emily_Bront%C3%AB

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