Pelotas

Estive por alguns dias em Pelotas, em 2023, e aproveitei a oportunidade para escrever sobre essa cidade, que fica a 250 km de Porto Alegre, capital do estado Rio Grande do Sul. Normalmente, o que as pessoas sabem sobre Pelotas é que ela é fria e úmida e, também, que é a capital do doce. Como já morei por ali há alguns anos atrás, e conheço um pouco o lugar, aproveitei esses dias para pesquisar e mostrar para vocês que Pelotas é muito mais do que isso! 

Pelotas ontem e hoje

A Princesinha do Sul

Em 1835, a Vila da Freguesia de São Francisco de Paula foi elevada à categoria de cidade com o nome de Pelotas. Originada a partir das charqueadas instaladas na região, Pelotas desenvolveu-se aproveitando sua posição geográfica junto ao Canal São Gonçalo que faz ligação com a Lagoa dos Patos. Essa ligação marítima facilitou a exportação do charque, bem como do couro. 

Pelotas cresceu, vindo a tornar-se uma das mais ricas cidades da região naquele século. Com tanta riqueza, Pelotas ficou conhecida como a Princesinha do Sul. Na cidade, instalaram-se nobres e ricos comerciantes, os “barões do charque”. 

Do sal ao açúcar

O comércio com o nordeste do Brasil trouxe para Pelotas muito açúcar, em troca do charque (aquela carne salgada ao sol) que dali saía. Com a disponibilidade dessa mercadoria começou-se a produzir doces, inicialmente para a aristocracia. Com o passar dos tempos a produção aumentou e transformou-se em uma nova referência para a cidade: a Capital dos Doces!

Pelotas hoje

Pelotas conta, atualmente, com uma população de 325 mil habitantes. A economia da cidade está baseada na área de serviços, comércio, indústria e agropecuária, na ordem de importância. Outro destaque é a educação. A Universidade Federal (UFPel), a Universidade Católica (UCPel) e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFSul) atraem jovens da região e de todo o país.

Turismo em Pelotas

Agora vamos ao que interessa: dicas para turistar! Afinal, o que visitar em Pelotas? Como é impossível mostrar tudo num post só, vou separar em 3 categorias para ficar mais fácil: Centro histórico, Restaurantes e Passeios. Sobre os monumentos do Centro falarei nesse post, e os outros dois assuntos ficam para os próximos posts. Vamos começar!

Centro Histórico

Falar de história em Pelotas é falar da própria cidade. No Centro Histórico, para onde quer que você olhe, poderá identificar prédios e fachadas que fazem parte da tentativa de preservar o passado. É um verdadeiro museu a céu aberto. Porém, isso nem sempre é positivo. Se por um lado podemos respirar cultura, por outro lado a cidade não consegue esconder a dificuldade que tem em preservar tantas obras de arte. Isso vai ficar bem claro nas imagens que eu registrei no período de 03 a 17 de agosto de 2023.

O Centro Histórico é composto pela Praça Coronel Osório, pelo Mercado Central, pelo Paço Municipal, pela Biblioteca, pelo Antigo Banco Nacional do Comércio e pela Antiga Escola de Agronomia Eliseu Maciel.

Praça Coronel Pedro Osório

Praça Coronel Pedro Osório, em Pelotas.
(Foto: IBGE)

A Praça Coronel Pedro Osório é o principal elemento urbano do centro histórico, entorno da qual se localiza a maioria das edificações tombadas do município. Recebeu ao longo de sua história diferentes denominações como Praça da Regeneração, Praça Dom Pedro II e Praça da República. Apresenta oito entradas, é arborizada, e, em seu ponto central encontra-se a Fontes das Nereidas importada da França pela Companhia Hidráulica Pelotense em 1785, com o intuito de fornecer água potável para a população. Destacam-se, entre outros monumentos existentes na praça, o monumento ao Coronel Pedro Osório, monumento à mãe pelotense, o relógio solar, e a estátua de João Simões Lopes Neto. Além disso, ao seu redor, pode-se encontrar um grande número de edificações erguidas no período de 1870 a 1930.

No centro da praça está o chafariz “Fonte das Nereidas”

Fonte das Nereidas, em Pelotas.
“Fonte das Nereidas” (Foto: acervo pessoal – 2023)

Você sabia? Na cidade de Edimburgo, na Escócia, há um chafariz idêntico à Fonte das Nereidas de Pelotas.

A fonte irmã, em Edimburgo, Escócia.

A única diferença são as nereidas montadas em hipocampos que estão presentes, apenas, na fonte de Pelotas.

As nereidas.
As Nereidas no chafariz central da praça, em Pelotas. (Foto: Pelotas em imagens – Foto Marcel Avila – Ascom (5)

Antigo Banco do Brasil

Prédio do antigo Banco do Brasil, em Pelotas.
Antigo Banco do Brasil (Foto: acervo pessoal – 2023)
(Foto:IBGE)

Para mim, é um dos prédios que mais chamam a atenção. Não sei exatamente porque. Talvez pela sua cúpula, talvez por estar na esquina e ser de melhor visualização. Não sei. É uma pena que não está aberto para visitação. Ele ainda está aguardando restauração. O banco operou até a década de 1970. Esse prédio foi construído entre 1926 e 1929, de acordo com o IBGE. Veja o link aqui.

Grande Hotel

Antigo Grande Hotel de Pelotas
Antigo Grande Hotel (Fotos: acervo pessoal – 2023)

Atualmente o prédio pertence a Universidade Federal de Pelotas. Eu fico imaginando o quão chique deveria ser se hospedar em um dos 76 quartos desse hotel nos idos de sua inauguração, em 1928. Ele também está em processo de restauração.

Theatro Sete de Abril

Theatro Sete de Abril
Theatro Sete de Abril (Foto: acervo pessoal – 2023)

Um dos primeiros teatros do Brasil a ser construído, seu nome foi uma homenagem a Dom Pedro I . O Theatro Sete de Abril foi inaugurado em 2 de dezembro de 1833. Foi tombado como patrimônio histórico em 1972. O Teatro continua em funcionamento, tendo condições de receber espetáculos e realizar aulas e oficinas, porém, atualmente, está passando por reformas, não sendo possível sua visitação.

Casa 02, Casa 06 e Casa 08

(Foto: Rafael Fiss, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons)

Esses três casarões pertenceram a famílias tradicionais de Pelotas. Construídos no final do século XIX, hoje cada um deles tem uma destinação.

Casa 02 – Pouco tempo após ser erguido, este imóvel foi modificado, por determinação do novo proprietário, em 1880. Além da bela fachada, o prédio se destacada pelo mirante, de onde se observa o Canal de São Gonçalo. Atualmente abriga o Centro Cultural Adail Bento Costa e a Secretaria de Cultura

Casa 06 : Este casarão foi erguido em 1879 pela família para o Barão de São Luís Leopoldo Antunes Maciel e esposa. O imóvel, hoje, pertence a Secretaria de Cultura e abrigará o Museu da Cidade de Pelotas.

Casa 08: Construído em 7 set 1880 o Casarão 8 foi tombado como patrimônio histórico em 1977. Na casa funciona, hoje, o Museu do Doce. Sim, a indústria dos doces foi muito importante para o desenvolvimento de Pelotas, e com certeza, merece um museu.

Casa de Pompas Fúnebres

Essa funerária existe desde 1882 e, acreditem ainda está em funcionamento. No passado, os cortejos fúnebres eram grandiosos. Os caixões eram transportados em carruagens magníficas, e seus cavalos eram selecionados e todos adornados. É claro, dependendo das condições financeiras da família. Quem não tinha dinheiro ia de burro mesmo.

Empreza de Pompas Fúnebres, em Pelotas.
(Foto: Eugenio Hansen, OFS, CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons)

Casa Assumpção

(Fonte: Eugenio Hansen, OFS, CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons

Casas Geminadas

“Localizadas na Praça Coronel Pedro Osório, nº 1 e nº 3, as casas geminadas foram construídas pelo Comendador Joaquim Assumpção – o Barão de Jarau – para suas duas filhas Judith e Francisca Augusta, em 1911 e 1912. O projeto foi trazido da Inglaterra, tendo sido executado por Caetano Casaretto (construtor de origem italiana responsável por várias edificações em Pelotas). Os Casarões integram o Conjunto Histórico de Pelotas tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde meados de 2018.” (Fonte: Secretaria de Turismo de Pelotas – SDETI)

Casas Geminadas (Foto: UFPel)

Clube Caixeiral

Clube Caixeral, em Pelotas de 2012
Clube Caixeiral, em 2012. (Foto:Eugenio Hansen, OFS, CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons

O Clube foi construído pelo arquiteto pelotense Caetano Casareto e se localiza na Praça Coronel Pedro Osório, 106, ao Centro de Pelotas. Do Clube nasceram o Esporte Clube Pelotas, o Clube Brilhante, a União Gaúcha Simões Lopes Neto, a primeira Academia de Contabilistas Pelotenses e a Academia Pelotense de Letras.
Durante alguns anos, o Clube ocupou várias sedes provisórias, até que em 11 de dezembro de 1905 passou a ocupar a sede própria, ainda em fase de conclusão. (Fonte: IBGE)

Theatro Guarany

Theatro Guarany, em Pelotas.
Theatro Guarany (Foto: acervo pessoal – 2023)

O Theatro Guarany foi inaugurado em abril de 1921, com a apresentação da ópera “O Guarany”. Nada mais apropriado! O teatro surgiu a partir da iniciativa de rico comerciante local, coronel Rosauro Zambrano, não satisfeito com o tratamento recebido no Theatro Sete de Abril. Atualmente, o teatro continua em funcionamento e permanecem de posse da mesma família. (Fonte: theatro guarany)

Bibliotheca Pública Municipal

A criação formal da Biblioteca ocorreu em 1875, idealizada por Fernando Luís Osorio, filho do general Osorio, em princípios de 1871. A inauguração do 1º piso foi em 1881 e a conclusão em 1888. O 2º piso foi entregue em 1915. Diversos acontecimentos históricos tiveram a Biblioteca como sede, tais como, a promoção de liberdade de diversos escravos pelo Clube Abolicionista, em 1881, e o desenvolvimento do Centro Médico de Pelotas, entre outros.

Biblioteca Pública de Pelotas
Bibliotheca Pública de Pelotas (Foto: acervo pessoal – 2023)

A biblioteca continua em pleno funcionamento e conta com um acervo de mais de 200 mil títulos. Também funciona no mesmo prédio o Museu Histórico da Bibliotheca Pública de Pelotas.

Paço Municipal

Paço Municipal de Pelotas
(Foto: Acervo pessoal – 2023)

O Paço Municipal foi construído em 1881, em estilo neoclássico, para ser a Câmara Municipal que, na época, era a responsável pela administração da cidade. Hoje, além de servir como a prefeitura da cidade, o prédio guarda o material histórico e a galeria de retratos de antigos prefeitos.


Apresentei, então, os principais edifícios históricos nas imediações da Praça Coronel Pedro Osório. Não há dificuldade alguma para se chegar na praça. Qualquer residente de Pelotas poderá indicar o caminho, pois este é, com certeza, o maior ponto de referência da cidade.

Na sequência, vou mostrar outras construções que merecem ser visitadas. Apesar de um pouco afastadas da Praça Coronel Pedro Osório, ainda estão na cidade.

Catedral Anglicana do Redentor

Igreja Cabeluda ou Catedral Anglicana do Redentor, em Pelotas.
Catedral Anglicana do Redentor, em Pelotas (Foto: acervo pessoal – 2011)
Catedral Anglicana do Redentor, em Pelotas.
“Igreja Cabeluda” – agosto de 2023 (Foto: acervo pessoal)
“Igreja Cabeluda” (Foto: acervo do IBGE)

“A Igreja do Redentor, atualmente denominada Catedral da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, abriu suas portas ao público em 1892 e em 1988 foi elevada à categoria de Catedral. A Catedral também é conhecida como Igreja Cabeluda, por sua característica de ser coberta por uma vegetação chamada Hera (Trepadeira) e que muda de cor conforme as estações do ano: na Primavera, fica de um tom verde claro; no Verão, perde as folhas e aparecem somente as raízes em tom cinza; no mês de maio, muda para rosa avermelhado, partindo para o grená e, a seguir, o marrom.” (Fonte: IBGE)

Catedral Metropolitana São Francisco de Paula

O início do processo de construção dessa igreja se deu por volta de 1813. Desde então abriga uma imagem de São Francisco de Paula que veio da Colônia do Sacramento. Essa primeira construção, na verdade, era apenas uma capela, a qual pegou fogo e foi reconstruída em 1826. D. Pedro II chegou a lançar a pedra fundamental de uma nova igreja, em 1845, próximo a atual Praça Pedro Osório, mas essa obra não chegou a ser iniciada. A fachada é a mesma desde o séc. XIX.

Catedral Metropolitana são Francisco de Paula, em Pelotas.
Catedral São Francisco de Paula (Foto: acervo pessoal – 2023)

A igreja passou, ainda, por mais três ampliações e reformas, em 1915, 1933 e 1947, quando chegou a sua configuração atual. Hoje possui capacidade para 1700 pessoas. Atualmente está em reforma. (Fonte: IPHAN; IBGE)

Lateral da Catedral São Francisco de Paula (Foto: acervo pessoal – 2023)

Praça Cipriano


Além destes pontos, faltou mencionar sobre o Antigo Banco da Província, Antigo Quartel Legalista, Conservatório de Música e o Mercado Central. Não pude capturar imagens boas destes locais durante minha viagem. Já encomendei fotos destes prédios e atualizarei este post oportunamente.


Estes são os principais pontos para se turistar em Pelotas, no contexto histórico. Ainda existem vários outros prédios, estátuas e monumentos pela cidade, mas me ative apenas aos que são mais “badalados”. Na verdade, caminhando em várias ruas eu me surpreendia, a todo instante, com a beleza da fachada de várias casas comuns, com os detalhes minuciosos de cada parede, e ficava imaginando as histórias de vida que por ali passaram.

Nem tudo são flores…

Apesar de toda essa riqueza cultural e arquitetônica presente por toda a cidade, o que mais transparece, infelizmente, é a falta de cuidado. Construções mal conservadas, pichadas, desvalorizadas. E isso é desde sempre. Passa governo entra governo, independente da bandeira ideológica, o desleixo à cultura permanece desde quando morei por essas bandas.

Entendo que manter um tão grande número de construções históricas deva ser muito caro para o governo, mas é também para isso que eles foram eleitos. É função destes buscar formas exequíveis de preservar esse patrimônio. Árdua missão, mas tenho certeza de que a fórmula para resolver esse problema pode ser encontrada em muitas outras cidades do Brasil. Planejamento estratégico eficiente e, acima de tudo, vontade, são imprescindíveis para reverter esse quadro definitivamente.


Gostou do artigo? Você conhece ou mora em Pelotas? Deixe seus comentários sobre essa cidade. Suas observações podem ajudar outras pessoas que têm interesse em Pelotas.

Em breve continuarei escrevendo sobre Pelotas, sobre passeios e lugares para comer e se hospedar. E, como notícia, já está confirmada a próxima FENADOCE (Festa Nacional do Doce) que ocorrerá de 29 de maio a 16 de junho de 2024, mais informações no site: www.fenadoce.com.br

Sobre o autor: Alberto Ramos é pós-graduado em Comunicação Social e é o editor-chefe do nosso blog. Natural do Rio de Janeiro, é casado e pai de dois filhos e uma filha. Filósofo nas horas vagas, acredita na simplicidade das coisas e que “a virtude está no meio”, sempre!

Estátua de João Simões Lopes Neto e o autor do artigo.
Estátua de João Simões Lopes Neto, escritor regionalista pelotense, situada na Praça Coronel Pedro Osório.

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