Geração Mimeógrafo ou Poesia Marginal
Movimento que surgiu no Brasil, na década de 70, atingindo as artes, em variadas expressões, como a música, cinema, teatro, artes plásticas e literatura. A cultura do país foi diretamente influenciada por esse movimento chamado de Poesia Marginal ou a Geração Mimeógrafo.
Leminski como um dos principais representantes desse movimento definia assim:
“Marginal é quem escreve à margem, deixando branca a página para que a paisagem passe e deixe tudo claro à sua passagem. Marginal, escrever na entrelinha, sem nunca saber direito quem veio primeiro, o ovo ou a galinha.” (Leminski)
Poesia marginal nas ruas
Artistas, divulgadores culturais, educadores e professores, unidos, fizeram um novo tipo de veiculação cultural, na época altamente contida pela organização política atuante, claramente autoritária. O sistema totalitário funcionava no país.
A produção poética era divulgada pelos próprios poetas, produzida em mimeógrafos, em simples papel. O trabalho desses artistas era vendidos por eles mesmos, nos bares, praças, teatros, cinemas e universidades, com preços bem baratos.
Paulo Leminski – “samurai malandro”
Poeta, compositor, romancista, ensaísta e tradutor.
Integrante do movimento criado por artistas, conhecido como o movimento dos “poetas marginais”.
Nasceu em Curitiba (no Paraná), em 24 de agosto de 1944, e faleceu na mesma cidade, com cirrose hepática, em 7 de junho 1989, aos apenas 45 anos.
Filho de Paulo Leminski (um militar de origem polonesa) e Áurea Pereira Mendes (uma dona de casa de origem africana).
Seus pais queriam que ele seguisse a vida religiosa, mas não deu certo, Leminski chegou a estudar no Mosteiro de São Bento.
O primeiro livro de Leminski foi publicado em 1976, com o título de Catatau. Participou do movimento concretista, lançando poesias na revista Invenção, tendo início nessa época uma rica produção literária.
Leminski, era um apaixonado pela cultura japonesa e pelo zen-budismo, escrevia haicais e foi autor de uma biografia de Matsuo Bashô, poeta japonês do século XVII. O poeta também praticava o judô. Recebeu o apelido de “samurai malandro”, por ter uma postura flexível e ao mesmo tempo uma precisão oriental.
Foi professor de história e Redação. Trabalhou como redator em agências de publicidade e fez tradução de grandes obras, como James Joyce, Samuel Beckett e Yukio Mishima, bem como o clássico Satíricon, de Petrônio.
Recebeu o Prêmio Jabuti, em 1995, pelo livro Metamorfose.
Leminski era casado com a poeta Alice Ruiz e teve três filhos, Áurea, Miguel Ângelo e Estrela.
Poesia de Leminski
Podemos dizer que a poesia de Leminski é despojada, criativa, totalmente inusitada. Surpreendente a maneira como ele coloca as coisas, sempre me divirto lendo seus haicais, versos curtos cheios de uma irreverência cativante. Espero que você curta a sensibilidade apaixonante desse incrível poeta.
pra que cara feia?
na vida
ninguém paga meia.
Paulo Leminski
tudo
que
li
me
irrita
quando
ouço
rita
lee
Paulo Leminski
se
nem
for
terra
se
trans
for
mar
Paulo Leminski
A noite me pinga
uma estrela no olho
e passa.
Paulo Leminski
O Amor, esse sufoco
O amor, esse sufoco,
agora a pouco era muito,
agora, apenas um sopro.
Ah, troço de louco,
corações trocando rosas
e socos.
Paulo Leminski
INCENSO FOSSE MÚSICA
isso de querer ser
exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além
Paulo Leminski
AMOR
Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
É que se transforma
Numa matéria-prima
Que a vida se encarrega
De transformar em raiva
Ou em rima.
Paulo Leminski
BEM NO FUNDO
No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto.
A partir desta data,
Aquela mágoa sem remédio
É considerada nula
E sobre ela – silêncio perpétuo
Extinto por lei todo o remorso,
Maldito seja quem olhar para trás,
Lá pra trás não há nada,
E nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas tem família grande,
e aos domingos saem todos passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas
Paulo Leminski
Mais poesia de Paulo Leminski
A LUA NO CINEMA
A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.
Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!
Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.
A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
que até hoje a lua insiste:
— Amanheça, por favor!Paulo Leminski
NÃO DISCUTO
Não discuto
Com o destino
O que pintar
Eu assino
Paulo Leminski
AMAR VOCÊ É COISA DE MINUTOS
Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei pra ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui
Paulo Leminski
JÁ DISSE
Já disse de nós.
Já disse de mim.
Já disse do mundo.
Já disse agora,
eu que já disse nunca. Todo mundo
sabe,
eu já disse muito.
Tenho a impressão
Que já disse tudo,
E tudo foi tão de repente…
Paulo Leminski
Gostou desse artigo? Deixe seus comentário. Sua colaboração é muito importante. Leia, também, o artigo sobre outra grande escritora brasileira: Lygia Fagundes Telles. Clique aqui para ler.
Autora: Cristina Ramos
Outras obras de Paulo Leminski disponíveis na Amazon:
Referências:
- www.escritas.org/pt/t/11528/a-lua-no-cinema
- www.pensador.com/frase/NDE5Nzk0/
- www.ubueditora.com.br/autor/paulo-leminski.html