Três sintomas (ainda) pouco falados em quem tem TDAH

Olá, pessoas, como estão? Depois de muito tempo sem aparecer por aqui, eis que retorno em outubro, o mês internacional da conscientização do TDAH, e por isso resolvi retomar as atividades com um artigo rápido sobre o tema.

Muito se fala por aí sobre as características mais perceptíveis do TDAH tais como: o pensamento acelerado, a inquietude, a ansiedade, o “não conseguir ficar parado” e a mudança rápida de foco entre atividades sem se prender a nenhuma por muito tempo, entre outras.

Então, pra evitar chover no molhado, resolvi dar atenção a alguns sintomas que são pouco comentados de maneira geral (embora eu não saiba exatamente o porquê).

E sim: eu tenho todos os sintomas abaixo.

01) Falta de noção do tempo

A minha percepção do tempo é problemática em um nível tal que a maioria das pessoas com quem eu comento sobre o assunto tendem a ficar confusas.

É comum pra mim sentir que se passaram horas quando, na verdade, foram apenas alguns minutos e vice-versa; parar pra pensar por cinco minutos e perceber que duas horas terminaram em um instante. 

Quando tenho um horário pra chegar em algum lugar, costumo sair muito mais cedo pra evitar qualquer problema. Tenho um compromisso marcado para às 09:00 da manhã? Pode apostar que 08:20 eu já estou lá. No mínimo. Vai que eu me distraio olhando uma trilha de formigas ou um carro com pintura estranha no caminho, nunca se sabe (TDAH = mudança de foco constante).

Também preciso fazer um esforço hercúleo pra tentar mensurar quanto tempo vou gastar fazendo alguma coisa. Ver um “deixa que eu faço em cinco minutos” se transformar em três horas é coisa do cotidiano pra mim (o contrário também se aplica: achar que algo levará horas pra ser feito e terminar tudo em 10 minutos). 

Um sintoma pouco comentado que pode ser observado em pessoas com TDAH é a falta de noção do tempo.

Mas o componente que as pessoas mais estranham é o fato de que pra mim a distância com que as coisas acontecem na linha do tempo é muito maleável: eu me lembro de coisas que aconteceram comigo há trinta anos e mesmo assim parece que aconteceram ontem.

E não é modo de falar: eu realmente sinto como se tivessem acontecido ontem. Claro, de um ponto-de-vista lógico e racional, eu sei que foi há muito tempo, mas de uma maneira geral, por falta de um termo melhor, pra mim aconteceram ontem ou, no máximo, semana passada.

É difícil pra mim sentir saudades, por exemplo, porque pra mim a última vez em que vi a pessoa foi sempre ontem, por assim dizer.

Eu não sei se esse último ponto é uma característica do TDAH em si, mas resolvi comentar assim mesmo. Vai que alguém se identifica.

02) Cansaço mental frequente

Diga a qualquer pessoa que tenha TDAH pra meditar e manter a mente vazia e, provavelmente, a resposta vai ser um olhar de “aham, tá bom” ou um semblante de descrença e cansaço. Ou tudo junto.

Quem tem TDAH geralmente não consegue parar (hiperatividade, lembra?).

Nós pensamos o tempo todo, nós pensamos em tudo, nós pensamos em tudo o tempo todo e quando conseguimos relaxar a mente geralmente é por esgotamento. Nosso cérebro precisa trabalhar mais pra compensar várias coisas (níveis de atenção e capacidade de memória pra ficar em alguns exemplos).

Por exemplo: este texto. Por mais curto e simples que ele seja, você não faz ideia do quanto a minha cabeça “queimou” pra escrevê-lo. Eu queria ter colocado tanta coisa a mais, mas ele perderia ser curto e simples a que me propus.

Só pra vocês saberem: eu levei cerca de 25 minutos pra terminá-lo e ele poderia ter ficado umas 5 vezes maior.

Nós não conseguimos pensar pouco. 

Um sintoma pouco comentado que pode ser observado em pessoas com TDAH é o cansaço mental frequente.

03) Dificuldade em controlar emoções

Eu tenho muita dificuldade em controlar sentimentos de raiva¹ e frustração (apesar de que venho fazendo alguns melhoramentos nesse sentido). O TDAH tem efeitos sobre a regulação emocional e a vigilância precisa ser constante.

E não se engane: não é preciso que aconteça algo muito sério pra perdermos o eixo.

Eu ainda costumo me aborrecer profundamente quando algo cai no chão. Caramba, é muito irritante colocar algo em cima da mesa com todo o cuidado do mundo e ainda assim a coisa teimar em rolar e ir pro chão. Parece implicância do universo, sabe?

Mas eu já consigo abaixar pra pegar o que caiu sem amaldiçoar até a quinta geração do lápis fujão ou do papel que sai voando aparentemente por vontade própria.

E quanto às outras pessoas? Ah as outras pessoas. Deixe eu te contar um segredo que não é segredo pra ninguém: assim como a vida não é justa, as pessoas podem ser insuportáveis.

Pegue a frustração com os objetos cadentes com vida própria e eleve à décima potência (talvez a um gugol² seja mais preciso). A quantidade de variações que as pessoas podem fazer pra nos perturbar é impressionante.

Imagine uma mente que funciona muito rápido tendo que lidar com um monte de problemas, mas sem ter as bases naturais pra isso e terá um vislumbre do problema. Evoluir nesse sentido e nessas condições é trabalho de formiga manca.

Ps 1: Não se preocupe: a raiva é bem momentânea e dirigida. Passa logo, só fique longe. Uns 5 metros já bastam.

Ps 2: não sabe o que é um gugol? Um gugol é o número 1 seguido de cem zeros. Pouca coisa. Agora você sabe. Yori também é cultura.


Autor: Yori R. Santos-Ramos


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